O Apocalipse Siríaco de Daniel é uma obra pós-bíblica do gênero apocalíptico, ou seja, é um pseudoepígrafo, pois apesar de utilizar o nome e autoridade do famigerado personagem bíblico Daniel em sua narrativa é um texto da antiguidade tardia, datado por volta do final da terceira década do século VII d.C. O livro é de autoria desconhecida, mas foi sugerido ter sido escrito por um monge para companheiros de vida monástica ou por um grego bizantino de alguma ilha do mediterrâneo oriental.
Este apocalipse foi composto em siríaco, língua franca de regiões do mediterrâneo ao Oriente Médio, falado por comunidades de cristãos e principal meio de registro e transmissão da produção literária do cristianismo oriental a partir do século IV d.C. É difícil determinar o local de produção e contextos históricos da obra, já que não há referências explícitas a eventos históricos de sua própria época, no entanto, importantes apocalipses em siríaco datam da conquista do Oriente Médio pelos árabes no século VII d.C.
O texto do Apocalipse Siríaco de Daniel é estudado em comparação com outras produções siríacas com as quais compartilha temas em comum, é o caso do Anticristo e de Gog e Magog, presentes na Lenda Siríaca de Alexandre, no Poema Siríaco de Alexandre, no Apocalipse de Pseudo-Metódio e no texto O jovem Daniel. É importante ressaltar que este apocalipse é baseado no livro bíblico de Daniel, desenvolvendo temas do mesmo, como a ressurreição dos mortos (Dn 12.2, SyrDn 34-36).
A estrutura do Apocalipse Siríaco de Daniel pode ser dividida em duas seções: a que narra as aventuras de Daniel entre a corte da Babilônia e da Pérsia (capítulos 1 a 13) e o conjunto de visões apocalípticas de Daniel (capítulos 14 a 40). A seguir reproduzo a paráfrase de Marcus Vinicius Ramos, responsável pela primeira e única tradução deste apocalipse para o português:
“A narrativa tem início com Daniel na corte de Nabucodonosor, descrevendo os tesouros tomados do Templo de Jerusalém e levados para a Babilônia, e sua fuga para a Pérsia após a vitória de Senaqueribe sobre Belteshazzar, filho de Nabucodonosor (caps. 1-5). Uma vez na Pérsia, Daniel relata a existência desses tesouros a Ciro, conclamando-o a marchar contra a Babilônia. Ciro aceita a sugestão e, após derrotar Senaqueribe, é instruído por Deus a depositar os tesouros no monte Zilai. Ciro obedece, mas mantém o trono de Salomão (caps. 6-8). Gaumata, o Mago, assassina Ciro e usurpa o trono, forçando Daniel a fugir para as montanhas de Elam. Gaumata, por sua vez, é assassinado após ficar seis meses no poder, e Dario torna-se o novo rei (cap. 9). Daniel é convocado por Dario, que pretende forçá-lo a revelar o local onde estariam escondidos os tesouros do Templo, mas antes que Daniel o faça, o rei é cegado por um anjo, sob as ordens de Deus. Daniel o leva à fonte de Siloé, em Jerusalém, onde a cegueira é curada. Após orarem ao deus dos judeus, ambos retornam à Pérsia (caps. 10-13). De volta à corte, grandes visões e profecias prodigiosas são reveladas a Daniel, e esses mistérios constituem a segunda parte do Apocalipse propriamente dito (caps. 14-40). Essa parte tem início com “os povos do Norte” se revoltando e um ciclo de desastres naturais se abatendo sobre a terra. Segue-se um curto período de paz, seguido por outra sequência de calamidades (caps. 14-20). O advento do Anticristo é acompanhado pela abertura dos portões do norte e a liberação da multidão de filhos de Gog e Magog (caps. 21-22), e instala-se na terra um período de medo que é sucedido por outro de placidez, após o que virá o final dos tempos (cap. 25). Os céus se abrem, e Deus aparece (caps. 26-28), dando início aos preparativos para a segunda vinda de Cristo (caps. 29-31), a construção da Nova Jerusalém (caps. 32-33), a ressurreição dos mortos (caps. 34-36) e o encontro de todas as nações em Sião (cap. 37). Então, após o julgamento conduzido pelo Messias (cap. 38), os impuros são excluídos, os justos admitidos, e tem lugar, por fim, o banquete da paz (caps. 39-40)”.
Referências
RAMOS, Marcus Vinicius. O Apocalipse siríaco de Daniel. São Paulo: Paulus, 2017.
Sugestões de resenha acadêmica e paper:
SILVA, ÂNGELO V. DA. O Apocalipse siríaco de Daniel. São Paulo: Paulinas, 2017. HORIZONTE - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, v. 17, n. 52, p. 540-542, 30 abr. 2019. Disponível em: O Apocalipse siríaco de Daniel. São Paulo: Paulinas, 2017. | HORIZONTE - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião (pucminas.br)
JOSÉ, Sara Daiane da Silva. Algumas considerações sobre a figura do Anticristo no Apocalipse Siríaco de Daniel. Disponível no link: Algumas considerações sobre a figura do Anticristo no Apocalipse Siríaco de Daniel (neauerj.com)
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